domingo, 30 de dezembro de 2012

A mitologia arco-íris

O Flamengo pode até já ter deixado de ser o maior clube do Brasil há vários anos (infelizmente hoje é a maior torcida do Brasil e só), mas indiscutivelmente segue ostentando com sobras o título de maior clube do Rio. Supera seus três rivais municipais em todos os sentidos: em títulos estaduais, nacionais e internacionais, em número de torcedores, em vitórias no confronto direto, em projeção nacional e internacional, em receitas e até mesmo em estrutura - é o único que tem CT, mesmo que ainda não concluído, e uma sede bem superior a dos rivais (quem duvida, visite os quatro clubes, como eu já fiz). Sem esquecer também do fato de ser o único grande do Rio que nunca foi rebaixado.

Pelo menos para os rubro-negros cariocas, como eu, isso é motivo de muito orgulho. Ao passo que para os rivais locais é uma dor insuportável, a maior ferida no orgulho deles como torcedores botafoguenses, tricolores ou vascaínos. Nem mesmo os rebaixamentos doem tanto na alma deles quanto essa notória inferioridade ao maior rival. Lógico que você nunca verá um integrante da turma do arco-íris admitir isso que digo, mas é uma verdade irrefutável. E na falta de argumentos contra o Flamengo, uma das piores artimanhas destes torcedores é tentar diminuir os feitos rubro-negros inventando mitos, histórias totalmente inverídicas sobre nossa história e nossas conquistas.

Esses mitos dos arco-íris chegam a ser até cômicos, tamanha a inconsistência e a facilidade para desmenti-los. Para descontrair um pouco, vamos citar três deles:

1º - A mais antiga história da “mitologia arco-íris” que eu tenho conhecimento diz respeito à Copa Libertadores de 1981. Afirma que no título continental do Flamengo não havia clubes argentinos e uruguaios, que até o final da década de 80 dominavam a competição sul-americana. Em uma variável ainda mais cômica desta história, dizem que a justificativa para isso seria um boicote da Argentina e do Uruguai à Conmebol devido à Guerra das Malvinas! Esse mito tinha muita força no final dos anos 90 e início deste século, numa época em que ainda não existia Wikipédia, Google e outros veículos de pesquisas e informação que hoje facilmente provam que existiam sim argentinos (River Plate e Rosário Central) e uruguaios (Peñarol, Nacional e Bella Vista) na Libertadores 81. Hoje em dia raramente é citado pelos rivais, justamente por esta enorme facilidade em desmenti-lo.

2º - Outro mito famoso da turma do arco-íris é sobre o Mundial Interclubes de 1981. E neste caso tem várias variáveis diferentes. Uns dizem que o Liverpool levou um time misto ou totalmente reserva para o Japão. Outros afirmam que o tradicional clube inglês sequer era o campeão europeu de 81, que “o real campeão” Aston Villa não quis disputar o Mundial. E alguns chegam ao cúmulo do ridículo de acreditar numa brincadeira feita por um site de humor há alguns anos atrás, que inventou uma entrevista do goleiro do Liverpool na época (Grobbelaar) admitindo ter recebido suborno para entregar o jogo para o Flamengo. Lógico que o Liverpool era o campeão europeu de 81 (o Aston Villa ganhou o título de 82), jogou com todas as suas estrelas (Grobbelaar, Neal, Hansen, Dalglish, Souness, McDermott, etc.) e a entrevista do goleiro nunca existiu.

3º - Por último o mais novo mito dos “sem-noção”, aparentemente inventado há poucos anos: um suposto rebaixamento do Flamengo no Campeonato Carioca de 1933, no qual foi o lanterna do campeonato da LCF (havia também outro campeonato, da AMEA) e teria permanecido na elite devido a uma virada de mesa. Outra variável da história inventa até outros dois rebaixamentos na década de 20, em anos que o Flamengo também ficou entre os últimos do estadual. Devido à dificuldade de achar informações na internet sobre aquela época, esse talvez seja o melhor mito dos arco-íris. Mas ainda assim é fácil de ser desmentido. Como neste caso a explicação é mais longa, clique aqui e veja um blog que explica perfeitamente porque não havia rebaixamento naquele campeonato.

E estou citando apenas os três mitos mais ridículos e facilmente “desmentíveis”, existem vários outros relacionados à Rede Globo, CBF e arbitragens que dariam até um livro. Não vou negar que a criatividade dos torcedores rivais para inventar bobagens sobre o Flamengo é algo admirável. Se tivessem a mesma criatividade para ajudar de alguma forma os seus clubes do coração, talvez até pudessem chegar um dia ao nível de grandeza do Mengão. Mas o foco deles é o maior rival, vivem em função da gente. Muitos torcem mais contra o Flamengo do que à favor do próprio time. E isso em nada é ruim para os rubro-negros, só nos torna ainda maiores.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Fim da Era Enceradeira

Como já era de se esperar, Zinho não aceitou a proposta de assumir um cargo menos importante e com redução salarial, deixando o Flamengo após quase oito meses à frente do futebol rubro-negro. Eu acredito que essa decisão tenha sido a melhor para o clube, já que o trabalho de Zinho em momento algum me agradou. Errou em muitas situações, como na condução dos capítulos finais do caso Ronaldinho, na demora em demitir Joel Santana, no fracasso na contratação de um camisa 10 na última janela de contratações e na aposta furada na recuperação de Adriano. Faltou-lhe competência e experiência para exercer um cargo de tamanha importância num clube da grandeza do Flamengo.

Não nego que ele seja uma pessoa íntegra e honesta, coisa rara no mundo sujo do futebol, e que sempre teve a melhor das intenções. É rubro-negro de coração e aparentemente sai pela porta da frente, como merece. Torço para que estude, evolua e se torne um profissional mais gabaritado, faça bons trabalhos em clubes menores e aí quem sabe no futuro possa voltar a exercer esta função de diretor-executivo novamente no Flamengo. Mas hoje é melhor contar com a experiência e visão de mercado do Paulo Pelaipe. Os R$ 100 mil mensais pagos a ele vão render muito mais para o futebol rubro-negro do que o mesmo valor quando era pago ao Zinho.

Só lamento que o Dorival Júnior não tenha seguido o mesmo caminho. Seu trabalho no comando do time rubro-negro também não me convence, ficou bem abaixo do que eu esperava quando ele foi contratado. Mas entendo perfeitamente a decisão da diretoria de mantê-lo. Não cairia bem uma nova administração que prega o equacionamento do passivo financeiro do clube já iniciar seu trabalho criando uma dívida de R$ 1,8 milhões. Principalmente ao observar o mercado e não ver nenhum técnico à disposição que seja mais capacitado do que o Dorival. Resta torcer para que ele dê a volta por cima e faça um ótimo trabalho, como fez no Santos em 2010.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Inimigo íntimo

Neste primeiro parágrafo do primeiro post no retorno das atividades do blog eu já vou avisando que o conteúdo destes e dos próximos posts que serão publicados nos próximos dias não são recomendados para torcedores rubro-negros que não gostem de ouvir certas verdades dolorosas sobre o Flamengo e todas as pessoas que estão envolvidas com o clube. Se você se enquadra neste perfil, te recomendo a parar a leitura por aqui, fechar a página e nunca mais acessar este blog.



Após a épica vitória nas eleições de 03 de dezembro, a nova diretoria do Flamengo enfim foi empossada no dia de ontem, 27 de dezembro. É formada por um grupo de empresários bem sucedidos, que na sua maioria nunca participaram da viciada política rubro-negra anteriormente. Grandes torcedores que desceram da arquibancada para emprestar ao clube do coração um pouco da competência e experiência adquirida ao longo das suas carreiras profissionais. Ao longo das eleições contaram com apoio maciço do torcedor do Flamengo, algo em torno de 90%, de acordo com algumas enquetes publicadas no período.

Mas isto significa que este apoio perdurará durante os três anos de mandato? Infelizmente não. Aliás, bem longe disso. Mesmo antes de a nova diretoria assumir o clube, já vemos muito torcedores neste angustiante período pós-eleições e pré-administração retirando as cornetas do armário e soprando-as à plenos pulmões. São pessoas de “pouca massa cinzenta” que pensam que Bandeira, Wallim, Bap, Pelaipe e cia. são Midas, que tudo o que tocam vira ouro. No ponto de vista distorcido destes torcedores, todas as decisões da nova diretoria serão sempre perfeitas. E qualquer atitude que fuja deste padrão já é motivo o suficiente para chutar para longe suas “convicções” e detonar um trabalho que mal começou.

E o estopim principal para esta “mudança de lado” de muitos rubro-negros é a negociação para as renovações de contrato de Léo Moura e Renato Abreu, os dois bodes expiatórios da vez (é comum o torcedor do Flamengo sempre pegar algum jogador para Cristo sempre que as coisas não dão certo). Mesmo sem saber nada sobre o andamento das negociações, o que foi oferecido para renovarem ou se esta renovação realmente acontecerá, já urgem os cavaleiros do apocalipse para dizer que nada mudou, que essa diretoria é tão ruim quanto a anterior, que não vão mais assistir aos jogos do Flamengo em 2013, que desistiram de virar sócios, entre outras imbecilidades. E isso apenas pela possibilidade de manter dois jogadores que na opinião deles deveriam deixar o clube.

Percebo agora que muitos críticos da Chapa Azul no período eleitoral estavam certos ao dizer que a maior parte dos torcedores que apoiaram a candidatura de Bandeira e Wallim o fizeram por puro modismo, apenas para concordar com a maioria. Não se deram ao trabalho de analisar as propostas, não se deram ao trabalho de verificar qual o modelo de gestão os “azuis” pretendem implantar, os métodos e a filosofia de trabalho deles. Esses torcedores apenas se deixaram levar pela “onda azul” que tomou conta da Nação Rubro-Negra, sem sequer saber o que cobrar e quando cobrar os novos dirigentes caso eleitos.

É nessas horas que podemos perceber o quanto uma torcida pode ser nociva para o seu próprio clube. Talvez por uma questão de falta de instrução ou mesmo por sempre se deixar levar pela emoção, a maioria dos torcedores rubro-negros tendem a se tornar os maiores inimigos da gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Esperam decisões perfeitas e resultados imediatos de uma gestão que ainda precisa arrumar a casa após décadas de administrações calamitosas, que quase levaram o Flamengo à falência. Não tem inteligência o suficiente para perceber que um trabalho bem feito demanda tempo e paciência. Uma mudança real e significativa nunca será feita de uma hora para outra.

Eu tenho consciência que em todas as torcidas, de todos os clubes brasileiros, a maioria é assim: impulsiva, imediatista e pouco inteligente. Aliás, isso é um reflexo da sociedade brasileira. Mas ainda assim me dá um misto de ódio e tristeza profunda ao ver que a minha torcida não foge deste padrão. Meu sonho era ver toda a Nação Rubro-Negra caminhando junto com esta nova administração que tanto promete - no bom sentido da palavra. Talvez esta seja a última oportunidade que o Flamengo tem de, como bem disse o presidente em sua posse, equacionar não apenas o passivo financeiro do clube, mas também o ético e moral. A obrigação de todo rubro-negro neste momento é remar à favor da maré, e não abandonar o barco na primeira turbulência.